Janeiro. O ano iniciando e
você fazendo novos (e também costumeiros) planos: estar mais próximo da
família, ler mais, alimentar-se bem, estudar melhor, ser promovido, fazer
atividades físicas, ir aos médicos e fazer os famosos exames de rotina. E o que
seria essa rotina para você? “Com certeza um cardiologista”, diriam alguns. “Preciso
rever o meu grau no oftalmologista”, apontam outros. “Na minha mastologista não
posso faltar”, afirmam seguramente as mulheres. É bom saber que há quem cuide
da saúde física com essa preciosidade periódica. Mas e a saúde mental, está
dentro dos seus planos? Ou “pode ficar para depois? ”. Não podemos generalizar
e afirmar que todas as pessoas se preocupam apenas com o que é visto, palpável
ou verificável, pois sabe-se que há uma parcela da população voltada para o
lado invisível e intocável: o campo das emoções. Porém, pode-se afirmar que,
para boa parte da população, ainda é difícil inserir nas metas anuais, mensais
ou semanais, a visita a um psicólogo ou psiquiatra. Os sentimentos fazem parte
de algo que o homem não consegue explicar, mas, como o próprio nome já diz,
sentir. E talvez seja essa sensação que impede o mesmo homem de buscar
profissionais qualificados para atender a demanda interior, a lide das questões
emocionais e que nos afligem. Talvez o desconhecimento sobre o que faz o
psicólogo ou o famigerado estereótipo de loucura (que precisamos erradicar de
vez) sobre quem o frequenta, limita a ação da pessoa levando-a a cair no
preconceito e no famoso: eu não preciso. Mas quer saber? Você precisa. A pessoa
que vos escreve precisa. Nós precisamos. E não precisamos por precisar, para
cumprir uma tabela de checklist e prestar contas à sociedade. Não necessitamos
como dependência e obrigação, porque um dos melhores pontos de cuidar da saúde
mental é a liberdade de escolha. Por isso, precisamos como quem precisa de algo
bom, na liberdade de entender, acolher e escolher dar o primeiro passo em busca
de um autoconhecimento que talvez não esteja conseguindo fazer sozinho. Vivemos
num mundo tão cheio de padrões e imposições, que muitas vezes a pressão ou a
falta de sentido podem levar o homem ao vazio existencial. Viktor Frankl, médico
psiquiatra austríaco, fundador da escola da Logoterapia, afirmou que “cada vez
mais, as pessoas têm os meios para viver, mas não tem uma razão pela qual
viver”. Frankl anteviu, à sua época, as preocupações e frustrações do mundo
atual. O sentimento que não é cuidado traz a angústia que perdura e gera os
frutos do vazio existencial: a dependência química, a depressão e/ou o
suicídio. Estatisticamente falando, a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima
que 800 mil pessoas cometem suicídio anualmente. E esse número só cresce. Esta
demanda é tão urgente em nossa sociedade que a OMS alterou o conceito de saúde
desde 1998, passando a caracterizá-lo por “bem-estar (completo) biopsicossocial
e espiritual da pessoa”. É por acreditar que devemos estar atentos à saúde
mental, que um grupo de psicólogos de Minas Gerais decidiu criar o “Janeiro
Branco”, uma “campanha totalmente dedicada a colocar os temas da Saúde Mental
em máxima evidência no mundo em nome da prevenção e do combate ao adoecimento
emocional da humanidade”, segundo definição própria do movimento. E como esta
campanha pode ajudar? Construindo, fortalecendo e disseminando uma “cultura da
Saúde Mental”, na valorização da subjetividade humana e o combate ao
adoecimento emocional das pessoas, e do conceito de ‘psicoeducação’ entre as
pessoas e as instituições sociais, além de valorizar as políticas públicas
relativas aos universos da Saúde Mental em todo o mundo. Para conhecer mais
sobre este projeto, visite o site oficial: http://janeirobranco.com.br/ . Que tal
iniciar o ano de uma maneira diferente e colocar na sua lista de prioridades um
“exame de rotina” no universo da sua subjetividade? Previna-se! Cuide da sua
saúde mental, viva o sentido da sua vida e ajude outros a também encontrarem os
sentidos de suas vidas.
Raisa Fernandes Mariz Simões
Psicóloga e Mestranda em Saúde Pública pela Universidade Estadual da Paraíba